De janeiro a fevereiro, o ano de 2024 começou com a finalização e o lançamento do documentário “Antes que o Porto Venha”, denunciando os conflitos gerados pelo projeto do Porto Central em Presidente Kennedy (ES) e São Francisco de Itabapoana (RJ). O filme recebeu menção honrosa no 31º Festival de Cinema de Vitória e foi avaliado pelo jornalista e crítico de cinema Luiz Carlos Merten como “uma sinfonia de rostos, gente que, mais uma vez, está excluída da decisão dos poderosos”.
Contudo, enquanto estávamos comemorando a boa distribuição do filme e promovendo os debates sobre os impactos deste projeto portuário em nosso território e nas mudanças do clima, fomos surpreendidos por uma enchente de velocidade sem precedentes na bacia do rio Itabapoana.
No dia 23 de março, com mais de 300mm de chuva, a água avançou pelas casas, comércios e até mesmo, sobre nossa sede. Enquanto estávamos ajudando nossos parentes, amigos e vizinhos afetados pela enchente, também tivemos que lidar com a perda de parte de nossos equipamentos e livros que não puderam ser retirados a tempo. Foi um misto de sentimentos difíceis.
Mas seguimos firmes de que esse acontecimento só reforçava a urgência de nosso trabalho. Nos debruçamos, ao longo de todo o ano, em comunicar que a postura do poder público diante das enchentes não pode ser apenas de assistência, mas também de resiliência e adaptação climática. Levamos esta pauta às prefeituras, igrejas, organizações, escolas, jornais e podcasts.
Em abril e maio, dois projetos do ano anterior foram publicados oficialmente: A inclusão do Rio Itabapoana e Rio Veado no Plano de Ação Nacional para Conservação das Espécies Aquáticas da Bacia do Rio Paraíba do Sul (PAN) graças ao intermédio do biólogo e pesquisador Lênim Faber e Carlos Freitas. E o lançamento do artigo “Participação Pública na criação de Unidades de Conservação Municipais - Estudo de caso do Monumento Natural Municipal das Cachoeiras e Corredeiras do Rio Itabapoana, em Bom Jesus do Itabapoana/RJ” elaborado e escrito por Ednilson Gomes de Souza e Isabela Narde.
Em julho, o Médio Itabapoana recebeu visitas de todas as regiões da bacia para um encontro especial. Construído por muitas mãos, mentes e almas voluntárias, realizamos o I Fórum dos Saberes da Bacia Hidrográfica do Rio Itabapoana. Na cidade de Bom Jesus do Itabapoana, onde nossa história começou, durante os dias 18, 19 e 20 de julho, nos reunimos para pensar, projetar e celebrar o Itabapoana e o futuro que sonhamos para esse território.
As salas, os corredores e a quadra do C.E Governador Roberto Silveira presenciaram as várias horas de conversas, debates, dinâmicas, cartografias, músicas e apresentações preparadas especialmente para aquele momento.
A praça Governador Portela recebeu a passeata que conduziu o final do I Fórum e seu encerramento na Feira do Bem Viver, organizado por nossa associada Thayna Martins. Lá, tivemos uma roda de capoeira conduzida pelo Professor Marreta de Bom Jesus do Itabapoana e apresentações do grupo do Armazém Multiverso de Patrimônio da Penha.
Durante o Fórum, os pequenos tiveram um espaço dedicado a eles mediado pelas nossas associadas Helô Viana e Caroline Alves que, juntas, trouxeram também os jovens da Usina Santa Isabel e Nova Bom Jesus (Bom Jesus do Itabapoana) que participam do Coletivo Colhendo Memórias para uma apresentação. Também marcou presença durante as palestras nossas parceiras Luciana Couto e Ingrid Santos, intérpretes de LIBRAS.
Este lindo encontro só foi possível graças às organizações parceiras como a Jacutinga do Caparaó que trouxe sua música, dança, poesia, beleza, cores, e sabores do açaí juçara e dos alimentos preparados com afeto e respeito. A alimentação durante o evento também contou com o trabalho árduo e dedicado de nosso associado Rômulo Viana.
O credenciamento, a assistência das oficinas e o apoio à organização teve a participação dos alunos voluntários do técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal Fluminense campus Bom Jesus do Itabapoana.
As palestras e oficinas, com convidados e mediadores de diversas regiões, vindo de dentro e de fora do Itabapoana, foram possíveis pelo apoio do Comitê de Bacia Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana e da ONG FASE. O Comitê Capixaba de Bacia Hidrográfica do Rio Itabapoana e os empreendimentos locais como a FAMESC, a Creato, Quest Turismo e Aventura e a GeoAmbiental Engenharia também apoiaram a realização do evento.
Das dinâmicas organizadas no fórum, nasceu a Carta das Águas. Em um processo participativo e coletivo, a Carta das Águas foi criada por representantes da comunidade, sociedade civil e poder público dos 18 municípios que compõem a bacia hidrográfica do Rio Itabapoana. Este documento, resultado de um esforço popular, expressa as principais demandas e aspirações em busca de um futuro justo, sustentável e de bem-viver para seus habitantes.
Em agosto, a Carta das Águas foi lançada oficialmente e, em meio ao período eleitoral, a REDI se comprometeu em levá-la aos candidatos aos cargos executivos e legislativos dos municípios da bacia do Itabapoana em busca de que as questões ambientais e sociais, levantadas pela própria comunidade, fossem consideradas prioridades nos planos de governo.
Nesse mesmo mês, estivemos juntos da ONG FASE na Campanha Nenhum Poço a Mais em ação de sensibilização pela proteção da restinga de Praia das Neves e do Santuário de Nossa Senhora das Neves frente ao projeto do Porto Central. Juntos, obtivemos 25 mil assinaturas nos abaixo-assinados.
Em setembro, ocorreu o lançamento do Livro “Cartografia Social da Pesca Artesanal nos Alagados do rio Itabapoana” que documenta e valoriza a cultura e a economia das comunidades pesqueiras. Ao compartilhar as histórias, práticas e desafios dos pescadores, esperamos contribuir para a conservação deste modo de vida essencial e incentivar práticas de pesca mais sustentáveis. O livro, produzido com apoio do Fundo Casa Socioambiental, foi distribuído nas comunidades pesqueiras, escolas e também está disponível on-line para download.
Em outubro, tivemos capacitação com os membros da Feira do Bem Viver e mais uma feira no ano.
Em dezembro, mais um Cinedebate do documentário “Antes que o Porto Venha”, desta vez em Cachoeiro de Itapemirim (ES) na EEEFM Lions Sebastião de Paiva Vidaurre .
Dezembro também foi marcado pela participação e organização da 1ª Conferência Intermunicipal de Meio Ambiente e Mudança do Clima do Caparaó Capixaba em Alegre ES e da 1ª Conferência Municipal de Meio Ambiente em Bom Jesus do Itabapoana RJ - Etapa Municipal da 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente com enfoque na Emergência Climática.
Finalização do projeto de educação ambiental “Semeando Práticas Sustentáveis: capacitação para educadores de Bom Jesus do Norte” organizado pela Prefeitura Municipal de Bom Jesus do Norte em parceria com a REDI. E finalização do projeto Mulheres Mil organizado pelo IFF Campus Bom Jesus do Itabapoana que possibilita a inclusão social, por meio da oferta de formação focada na autonomia e na criação de alternativas para a inserção no mundo do trabalho e contou com o apoio da REDI.
Reunião com a Comissão de Justiça e Paz, ONG FASE, Pescadores Artesanais, o Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras para mobilização social frente ao início das obras do Porto.
Nosso ano se encerrou com os primeiros passos para a criação do Comitê Popular, mais um desdobramento do I Fórum dos Saberes da Bacia Hidrográfica do Rio Itabapoana que visa ampliar a mobilização social na bacia e a incidência popular sobre o futuro do território.
Assim, felizes por encerrar um 2024 repleto de ações, encontros, aprendizados e partilhas, em 2025, renovamos nossas esperanças. Queremos expressar nosso profundo agradecimento a você que apoiou, acompanhou e fez parte dessa trajetória. Desejamos um 2025 de paz, compaixão e união. Feliz Ano Novo!
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